Sunday, October 08, 2006

Entrevista sobre o louvor e a igreja

Entrevista que concedi a uma aluna do Seminário Teológico Batista de Anápolis

Aluna: Para o senhor, que é música sacra?

Heliel: É a música usada no serviço de adoração a Deus, dentro ou fora dos limites do templo.

Aluna: O que é música profana?

Heliel: É a música que não tem nenhum conteúdo que dignifique a criação de Deus e a humanidade, pelo contrário esta música sempre tende a falar com depreciação da criação e principalmente da humanidade.

Aluna: Existe um ritmo bíblico ou santo, e outro satânico ou profano?

Heliel: Não. Por outro lado, alguns ritmos seriam extremamente complicados se usássemos na adoração pública.

Aluna: Rock cristão: de Deus, da carne ou do diabo? Como ter certeza? ~

Heliel: Não existe nada do Diabo no sentido de criação. A criação pertence a Deus; tudo é dEle, por Ele, para a glória dele. A questão não é o rock, o estilo em si, mas quem compõe e canta as músicas. Não há ritmo sagrado ou profano. Ritmos são ritmos. A certeza que temos está exatamente em entendermos que Deus é o criador do céus, terra, mar e seres humanos, tudo foi criado por Ele e para a glória dele. E Ele mesmo é quem deu capacidades para os seres humanos recriarem a partir do que existe. Assim trabalharam e chegaram a esse estilo. Assim como a Bossa Nova, Samba, Country, Pop, etc. Parece-me que há um problema específico com o Rock. Algo cultural.

Aluna: Qual o verdadeiro papel da música no culto? Para que realmente serve a música? Qual o espaço ideal para a música num culto?

Heliel: O verdadeiro papel da música no culto é glorificar a Deus, exalta-lo. Nesse sentido ela serve para ensinar, exortar, edificar, visto que quando cantamos letras que glorificam a Deus e falam da beleza de sua criação, essa letra ensina, encoraja, edifica, etc. Não sei se há um espaço ideal, sei que ela não deveria tomar a maior parte do tempo na celebração e seu conteúdo deve manifestar a lógica das Escrituras. Pode até esporadicamente tomar a maior parte do espaço, contudo temos de priorizar a Palavra. Muitas músicas contém partes da Palavra e as vezes até citações inteiras de trechos bíblicos, contudo a música como todas as demais partes do culto carregam consigo um conteúdo teológico e algumas vezes não é a melhor teologia, assim precisamos ter espaço no culto o suficiente para que a Palavra seja pregada, o povo edificado, solidificado e confirmado para toda boa obra do Senhor do Reino.

Aluna: Como o senhor vê a influência das músicas norte americanas no Brasil?

Heliel: Em parte boa, visto que as músicas que obtivemos deles por mais que não expressem toda a abrangência da nossa cultura, pelo menos em sua grande maioria tem um fundo teológico coerente com a Palavra e a vida. As músicas brasileiras em grande parte falham na sua teologia, também na adequação do ritmo. Por que? Primeiro visto que os autores normalmente não tem formação teológica. Segundo, porque normalmente são muito jovens, aqui entra a inexperiência. Os cantores de Davi tinham que ter mais de 20 anos de idade (1 Cro 23.24,27) para fazerem parte do ministério. Terceiro, porque normalmente estão em igrejas que não prezam pela centralidade da Palavra e de Cristo. Quarto, por causa de uma visão mercadológica da música. Quinto, pelo misticismo, pragmatismo e emocionalismo tão presentes na cultura brasileira. Sexto, por falta de preparo musical. Juntando esses componentes, via de regra temos uma musica pobre em sua letra, conteúdo teológico, abrangência de todas as áreas da vida (normalmente só enxerga e incentiva o lado dourado da vida, esquecendo das tristezas e de como vivenciá-las como parte de um mundo caído), sua musicalidade e seu conteúdo bíblico chegando as vezes a heresia.

Aluna: As músicas “sacras” que são versões de músicas “profanas”, são realmente sacras?

Heliel: Não chegaria ao extremo de dizer que não. Sacro são os cantores e compositores, o ritmo é ritmo. Temos muitos hinos hoje que são letras evangélicas com música que foram usadas em cabarés ou são hinos oficial de nações, dentro outras. Mas, por não conhecermos a origem das músicas, cantamos os hinos e nos alegramos, temos recordações boas e somos edificados ao lembrar da melodia, porém vindo a mente a letra que faz parte daquela melodia. Agora se hoje pegarmos uma música de alguns grupos brasileiros (“É o tchan”, “só pra contrariar”, Roberto Carlos, dentre outros) e colocarmos letra evangélica certamente não vamos pensar na letra que cantamos, mas na letra original, visto que a melodia nos lançará para ela.

Aluna: Biblicamente falando: o louvor realmente liberta?

Heliel: Não.
Nada liberta a não ser Jesus através de sua Palavra operada pelo Espírito Santo. “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”. Essa fala entrou no jargão evangélico devido alguns livros com esse título como: “louvor que liberta”, autor: Merlin Carothers. Contudo somente Jesus liberta. Textos como Atos 16.25 e 26, 1 Sm 16 e 2 Cr 20.15-23 entre outros, são usados para expressar tal idéia, contudo estes textos mostraram que Deus, num ato de misericórdia, livrou pessoas por Sua vontade e escolheu fazer isso enquanto o louvavam, mas também fez coisas estrondosas em momentos de murmuração como ao abrir o mar vermelho (Ex 14.11...), ao fazer sair água da rocha (Ex 17.2...). Deus também fez milagres e operou libertações em momentos de ausência de música, louvor e adoração (no sentido que estamos tratando – musical), por exemplo, as curas maravilhosas que Jesus realizou não há nenhum relato que havia música.
Jesus liberta pessoas que andam com Ele, que o amam, que o adoram em espírito e em verdade e isso não se limita a música. Jesus também capacita seus servos a louva-lo nos momentos mais difíceis da vida ao invés de murmurarem e mesmo nos momentos de murmuração se Ele quiser Ele libertará. Se o louvor, por si, liberta, então não precisamos de Jesus e Ele não é o único redentor (o louvor redime). É só cantar. Agora quando focamos a vida plenamente em Jesus, consequentemente o louvaremos e dentro de sua vontade maravilhosa e soberana ele nos livrará dos problemas ou nos capacitará a vencê-los.
A Questão central é que queremos achar uma CHAVE para “abrir” ou “fechar” Deus, para domesticá-lo. E a resposta mais difícil para o ser humano ouvir e aceitar (engolir) é: Deus não permite ser domesticado. Ele não aceita rédeas. Aleluias.
E outra questão forte aqui são os pressupostos que regem a teologia central e dominante onde a maioria das músicas são compostas. Qual? A teologia é que o homem tem uma grande participação na salvação e contribuição para a vida. O ser humano é um grande parceiro de Deus, para não dizer sócio com partes igualitárias nesse projeto. Não se reflete que a teologia diz que a Salvação e tudo mais parte de Deus e nós simplesmente respondemos a Ele em Fé. Agora se parte de nós, então temos o “louvor que liberta”, a “oração que liberta”, “o sal grosso”, “a água benta”, enfim, nossas ações movem Deus a agir a nosso favor, mesmo que isso contrarie Sua santa vontade ou mesmo sua Natureza perfeita. Com certeza, dizer que o louvor liberta é furada....
Louvemos de coração, alma, corpo, mente e forças aquele que vive para sempre e com seu sangue comprou para Deus os que procedem de toda tribo lingua e nação. Ele é Digno.

Heliel carvalho