Thursday, October 21, 2010

QUE TIPO DE FORMAÇÃO A IGREJA PROPORCIONA?

Na introdução do livro “O plano mestre de evangelismo”, de Robert E. Coleman, a primeira frase é no mínimo interessante. Veja: “‘Os filósofos’, segundo Karl Marx, ‘tão somente tem interpretado o mundo diferentemente; o ponto, contudo, consiste em transformá-lo’”. Que verdade impressionante! Ela é valida essencialmente para a igreja. A grande questão da igreja não é apresentar filosofias, ainda que tenha a melhor delas. Não é tornar-se um clube, ainda que ela tenha a possibilidade de ser o melhor lugar para ser/estar. Não existe para ampliar seu rol de membros, ainda que se viva isto acontecerá. Não existe para arrecadar fundos e ampliá-los, ainda que se usados para a expansão do reino, estes virão. O fato é que a igreja existe para transformar pessoas a imagem do Filho de Deus (Rm 8.29). Imagem perdida na queda (Gn 3), que pode ser revertida progressivamente a medida que Cristo é formado em nós (2Cor 3.18). Por essa razão, pessoas como o apóstolo Paulo sofrem dores de parto (Gl 4.19) e trabalham arduamente para esse fim – sermos moldados a imagem de Cristo.

A pergunta é: A igreja tem sido agência de transformação de vidas a medida que forma discípulos de Jesus? Se você não consegue responder, deixa-me ponderar alguns fatos com você. Uma criança entra no pré-primário ou jardim da infância, na tenra idade. Aos 10 anos aproximadamente, ou seja, depois de 4 anos, ela se forma no primário. Aquele menino ou menina que entrou na escola sem saber ler e escrever, agora sabe, ler, escrever e fazer as operações simples da matemática. Um jovem sai de casa aos 18anos de idade e se ingressa no serviço militar. Normalmente este jovem não tem costume de arrumar sua cama, tem uma postura flexível com o corpo quando já não é corcunda. Alguns são lentos, relaxados e até relapsos. Depois de um ano de treinamento no exercito, marinha ou aeronáutica, invariavelmente ele se torna disciplinado. Respeita autoridade e horários. Sabe arrumar sua cama. É mais organizado e esperto. Ele foi transformado.

As gangues e narcotraficantes arregimentam suas crianças. Malignamente colocam em suas mãos as armas. Ensinam-lhes a manipulá-las. Educam-nas a tirar guarda em lugares determinados e a venderem suas drogas. Em pouco tempo estão experts em assaltos, manuseios de armas e a vida do crime organizado. Estes começam sem saber, mas acabaram sendo treinados. O mesmo acontece com os atletas, funcionários de empresas e praticamente em toda sorte de empreendimento.

Volto a perguntar: O que a igreja forma? Um membro que se converte hoje, daqui a dois, quatro, seis ou dez anos como ele estará? Passados vinte anos em que ele se formou? O quanto ele foi transformado? Ele já consegue orar sozinho? Ele sabe ler a Bíblia com alguém? Ele já desenvolve seus dons? Ele é capaz de abrir seu lar e receber novos na fé, ou para levar pessoas a Cristo? Ele é capaz de dar uma palavra na sua empresa, na sua escola, ou numa festa familiar?

Infelizmente, raramente é o que acontece. Eis a dura realidade. Há exceções, pela misericórdia de Deus. Especialmente daqueles que correm atrás, trabalham, crescem e ajudam, mas não porque houve um treinamento intencional e prático. Tais pessoas, independente da capacitação ou das ferramentas, aprenderam na raça. Não estamos dizendo que a Escola Dominical, Culto semanal e dominical e algumas outras atividades não dão algum treinamento, mas que este parece não ser o coração da liderança.

Veja o que diz o Dr. John Oak quando disseram na Conferência Mundial em Lausane, em 1974: “as igrejas coreanas não têm falta de potencial, recursos, treinamento e vitalidade espiritual com respeito ao poder do homem”. Oak indaga: “O que eu questionaria na afirmação é a parte que diz: ‘não há falta de treinamento’. Os representantes coreanos estavam provavelmente falando das Reuniões de oração das Madrugadas, da alta freqüência aos cultos, das visitas aos lares e outros ministérios tradicionais que são fortes nas igrejas coreanas. Certamente que elas são ferramentas importantes para o treinamento espiritual. Entretanto, se avaliarmos estritamente esses ministérios tradicionais e verificarmos as suas fraquezas, não estou certo se poderemos ficar contentes e inferir que ‘não há falta de treinamento’. Aqui eu me dirijo aos líderes da igreja. Vamos nos perguntar honestamente: estamos provendo treinamento espiritual concreto para nossos leigos? E estamos os aceitando como companheiros ativos de ministério?”

Oak apresenta ainda um outro argumento impactante. Depois de citar Hendrick Kraemer sobre a ênfase protestante na formação do ministro, o que foi excelente, e o involuntário desprezo do papel do leigo, escreve: “Além do mais o clero cai em vaidades sutis e pensamentos vãos de que seus sermões são suficientes para satisfazer os leigos e negligenciar a tarefa de treinar os leigos a se tornarem parceiros com ministérios frutíferos e prósperos”.

A liderança da igreja precisa pensar seriamente que além de Adorar e testemunhar, sua missão passa essencialmente pelo treinamento (Ef 4). Mesmo sabendo que nem todos vão ser treinados. Que treinar dá trabalho. Causa decepção. Cansa. Envolve rotina, disciplina, oração. Gera confronto e leva tempo, contudo não há possibilidade de ser uma agência de transformação do mundo e no mundo, sem que se passe pelo treinamento contínuo e intencional de cada membro. Nós lideres devemos colocar nossa energia aqui. Só assim a igreja cumprirá seu papel de agência de transformação do bairro, cidade e nação onde está inserida.

Que Deus tenha misericórdia de nós. Que Jesus seja nosso modelo e alvo! Que o Espírito nos plenifique e capacite!

16/10/10 – Heliel Gomes de Carvalho – helielcarvalho@yahoo.com.br

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