Monday, September 10, 2007

Nenhum Sofrimento é em Vão

Série Reflexão Teológica
Russel Shedd

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O fato de que a vida não é fácil para a maioria das pessoas confunde a cabeça de ímpios e cristãos. Para os que desacreditam que Deus, se existe, interessa-se pelo que passa na vida dos homens, o sofrimento atinge as pessoas por acaso. Não tem propósito. Se um indivíduo sofre um acidente ou é acometido por uma grave doença, que provoca dores terríveis e constantes, ele suporta tudo porque não tem escolha. Se decide, por força de vontade, aceitar o mal e conviver com o sofrimento que lhe é imposto, o benefício é dificil de abraçar. Não foi a esposa de Jó que disse, “Amaldiçoe a Deus, e morra!” (Jó 2:9)?
O estoicismo grego entendeu que o sofrimento fazia parte da “razão” ou “lógica” do universo. Virtude, para os estóicos, consistiu em descobrir a direção do destino (ou da natureza) e ajustar a vida com ela. Era importante não sentir paixões ou não se submeter às emoções, mas harmonizar-se com o fatalismo dos acontecimentos fora do controle do homem. Indiferença diante do sofrimento era a melhor resposta que o filósofo Zeno e seus seguidores podiam oferecer.
O cristianismo aceita um Deus pessoal, que criou o universo e o homem com inteligência. Quer dizer que o Criador fez e faz tudo com um propósito.
Admite-se que Deus poderia ter feito criaturas sem nervos e sem inteligência. Poderia ter feito o universo sem qualquer sofrimento. Uma vez que admitimos a personalidade de Deus e Seu “eterno poder” (Rm 1:20), é impossível concluir que o sofrimento ocorra por acaso.
Mas, qual seria o propósito de Deus em criar a possibilidade de sofrimento? Biblicamente, podemos responder que o sofrimento tem pelo menos três propósitos distintos.
1. Retributivo ou punitivo
Num universo em que a justiça existe, é inconcebível que pessoas cometam injustiça sem sofrer as consequências, ou nesta vida, ou na vida vindoura. Adolf Hitler teria que sofrer alguma conseqüência pelas atrocidades injustas que cometeu. Quanto sofrimento merece alguém que provocou a morte de vinte milhões de pessoas de maneira tão desumana? Desde a desobediência de Adão e Eva, que foram castigados pelo sofrimento de dar à luz e ganhar o pão com suor e cansaço, até hoje, concordamos que sofrimento vem em retribuição da injustiça.
2. Educativo e exemplar
Uma das maneiras mais eficazes de prevenir a sociedade sobre as consequências horríveis da AIDS é mostrar a um jovem um colega nas últimas fases dessa doença. Um filho mais velho sofrendo uma chicotada ajuda seu irmão a aprender o valor exemplar do sofrimento. Oséias sofreu profundamente em seu relacionamento conjugal com a intenção de exemplificar o amor de Deus pelo Seu povo. Jó aprendeu a pensar mais acuradamente sobre Deus após ouvir Eliú e o próprio Deus chamar sua atenção sobre o erro de seu pensamento.
3. Vicário e redentivo
A Bíblia dá fundamentos firmes para edificar uma teologia do sofrimento redentivo. Especialmente em Isaías, encontramos a descrição do inocente Servo Sofredor a quem Deus castiga para favorecer pecadores. “...Ele foi traspassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades” (Is 53:5). Esse versículo mostra esta verdade claramente. No Novo Testamento, Paulo declara que todos são pecadores, mas nem todos têm de sofrer pela injustiça que cometeram. Nas palavras do Apóstolo, “...Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus. Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça” (Rm 3:23-25). É possível escapar das conseqüências do pecado crendo na pessoa de Cristo, que sofreu vicariamente para pagá-los.
Paulo declara sua alegria em sofrer pelos colossenses, completando em seu próprio corpo o que falta das aflições de Cristo, em favor da igreja (Cl 1:24). Estes sofrimentos, não punitivos, têm a finalidade de avançar o Reino contra o inimigo de nossas almas.
Há sofrimento voluntário que glorifica a Deus. O livro “O Sorriso Escondido de Deus”, de John Piper (S. Paulo: Shedd Publicações e Edições Vida Nova, 2002) apresenta esta verdade de maneira maravilhosa.
Mesmo depois desta discussão tão limitada, sentimos a necessidade de uma explicação mais ampla pelo sofrimento de inocentes, tais como crianças com AIDS ou que nascem deformadas. Muitos passam fome sem culpa própria, mas por causa da corrupção e da má administração dos recursos do país. Muitos sofrem porque nasceram numa terra onde o Evangelho não chegou ou não provocou impacto suficiente para mudar as injustiças praticadas pelos governantes. Mas o cristão sabe que nenhum sofrimento é em vão. O que precisamos é paciência e aguardar o dia em que a gloriosa justiça de Deus será dispensada perfeitamente. “A terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas enchem o mar” (Is 11:9).


Rev. Russel Shedd é editor da Bíblia Vida Nova.

Thursday, September 06, 2007

A absoluta importância do motivo

Série espiritualidade
A. W. Tozer

A prova pela qual toda conduta será finalmente julgada é o motivo.
Como a água não pode subir mais alto do que o nível da sua fonte, assim a qualidade moral de um ato nunca pode ir mais alto do que o motivo que o inspira. Por esta razão, nenhum ato procedente de um mau motivo pode ser bom, ainda que algum bem possa parecer provir dele. Toda ação praticada por ira ou despeito, por exemplo, ver-se-á afinal que foi praticada pelo inimigo e contra o reino de Deus.
Infelizmente, a natureza da atividade religiosa é tal que muita coisa dela pode ser levada a efeito por razões não boas, como a raiva, a inveja, a ambição, a vaidade e a avareza. Toda atividade desse jaez é essencialmente má e como tal será avaliada no julgamento.
Nesta questão de motivos, como em muitas outras coisas, os fariseus dão-nos claros exemplos. Eles continuam sendo os mais tristes fracassos religiosos do mundo, não por causa de erro doutrinário, nem porque fossem pessoas de vida abertamente dissoluta. Todo o problema deles estava na qualidade dos seus motivos religiosos. Oravam, mas para serem ouvidos pelos homens, e deste modo o seu motivo arruinava as suas orações e as tornava não somente inúteis, mas realmente más. Contribuíam generosamente para o serviço do templo, mas às vezes o faziam para escapar do seu dever para com os seus pais, e isto era um mal, um pecado. Eles condenavam o pecado e se levantavam contra ele quando o viam nos outros, mas o faziam por sua justiça própria e por sua dureza de coração. Assim era com quase tudo o que faziam. Suas atividades eram cercadas de uma aparência de santidade, e essas mesmas atividades, se realizadas por motivos puros, seriam boas e louváveis. Toda a fraqueza dos fariseus jazia na qualidade dos seus motivos.
Que isso não é uma coisa pequena infere-se do fato de que aqueles religiosos formais e ortodoxos continuaram em sua cegueira até que finalmente crucificaram o Senhor da glória sem um pingo de noção da gravidade do seu crime.
Atos religiosos praticados por motivos vis são duplamente maus - maus em si mesmos e maus porque praticados em nome de Deus. Isso é equivalente a pecar em nome dAquele Ser que é sem pecado, a mentir em nome dAquele que não pode mentir, e a odiar em nome dAquele cuja natureza é amor.

Os cristãos, especialmente os muito ativos, freqüentemente devem tomar tempo para sondar as suas almas para certificar-se dos seus motivos. Muito solo é cantado para exibição; muito sermão é pregado para mostrar talento; muita igreja é fundada como uma bofetada nalguma outra igreja. Mesmo a atividade missionária pode tornar-se competitiva, e a conquista de almas pode degenerar, passando a ser uma espécie de plano de vendedor de escovas, para satisfazer a carne. Não se esqueçam, os fariseus eram grandes missionários, e circundavam mar e terra para fazer um converso.
Um bom modo de evitar a armadilha da atividade religiosa vazia é comparecer ante Deus sempre que possível com as nossa Bíblias abertas no capítulo 13 de I Coríntios. Esta passagem, conquanto considerada como uma das mais belas da Bíblia, é também uma das mais severas das que se acham nas Escrituras Sagradas. O apóstolo toma o serviço religioso mais elevado e o consigna à futilidade, a menos que seja motivado pelo amor. Sem amor, profetas, mestres, oradores, filantropos e mártires são despedidos sem recompensas.
Para resumir, podemos dizer simplesmente que, à vista de Deus, somos julgados, não tanto pelo que fazemos como por nossa razões para fazê-lo. Não o que mas por que será a pergunta importante quando nós cristãos comparecermos no tribunal para prestarmos contas dos atos praticados enquanto no corpo.

Nota sobre o Autor: O Dr. A. W. Tozer era pastor de uma Igreja da Aliança Cristã Missionária no Canadá, até o falecimento dele nos 1960's. Ele é conhecido como um dos mais famosos pregadores deste século e como "um profeta" da nossa geração.

Este artigo foi extraído do livro 'A RAIZ DOS JUSTOS' publicado pela EDITORA MUNDO CRISTÃO, o qual faz parte de uma série de 7 livros com os seguintes títulos: Vol.1 - O Caminho do Poder Espiritual; Vol.2 - O Poder de Deus; Vol.3 - Mais perto de Deus; Vol.4 - De Deus e o Homem; Vol.5 - A Raiz dos Justos; Vol.6 - A Conquista Divina e Vol.7 - O melhor de A W Tozer.

Carta aberta sobre o infanticídio indígena no Brasil

Por Ronaldo Lidorio*

Estamos juntando forças para pensar e agir sobre um assunto por demais importante. Trata-se do infanticídio praticado em etnias indígenas brasileiras sem que seja dado à família ou povo condições de diálogo sobre o assunto, na busca por outras soluções para as questões culturais que motivam tais fatos.

A ONG ATINI (Voz pela Vida) tem se proposto a discutir o infanticídio com o indígena e colaborar para a superação deste tabu social. Os elementos culturais que motivam o ato são dos mais variados em distintas etnias. Entre os Yanomami seria a promoção do equilíbrio entre os sexos. Entre os Suruwahá a deficiência física. Entre os Kaiabi o nascimento de gêmeos (sendo que a primeira criança é preservada), e assim por diante. Este não é um assunto exclusivo de nosso país. Na África centenas de etnias praticam o infanticídio. Muitos Konkombas de Gana, motivados pela subsistência, alimentam apenas as crianças mais fortes. Os Bassaris do Togo sacrificam as crianças que nascem com deficiência. Os Chakalis da Costa do Marfim o fazem por privilegiar o sexo masculino. Na China há amplo aborto de bebês do sexo feminino, por preferirem os meninos. Em dezenas de países o Estado e a sociedade têm se voluntariado para refletir sobre o infanticídio e tratá-lo à luz dos Direitos Humanos Universais. No Brasil ainda temos uma caminhada pela frente.

A ONG ATINI tem também distribuído amplamente a cartilha "O Direito de Viver" em mais de 50 etnias indígenas, gerando assim o ambiente necessário para o indígena brasileiro refletir sobre as questões ligadas ao infanticídio e outros atos nocivos à vida, dignidade e sobrevivência. Saiba mais acessando o endereço www.vozpelavida.blogspot.com

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, Brasília, promoverá uma audiência pública neste próximo dia 5 de setembro que discutirá o assunto como passo preparatório para a votação da lei Muwaji que regula e promove o diálogo construtivo pró-vida com os povos indígenas em nosso país. É o Projeto de lei 1057/2007 que aguarda parecer de aprovação no plenário. Fui convidado a participar do debate nesta data bem como em alguns outros ambientes acadêmicos e políticos nesses próximos 3 meses. Sinto que não podemos nos omitir.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada pela ONU em 1948 promulga que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos” (Art. 1). Afirma também que “toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e segurança pessoal” (Art. 3). Continua declarando que “todos são iguais perante a lei e têm o direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei (...) contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação” (Art.7). Saiba mais sobre a declaração acessando www.unhchr.ch/udhr/lang/por.htm

A disputa no mundo das idéias é travada com base em duas teorias opostas. O Relativismo (neste caso mais extremado, radical) e a Universalidade Ética. O Relativismo radical torna as culturas estáticas e estanques e as pretere de transformações autônomas, mesmo as desejadas e necessárias. O bem é o bem permitido na cultura, cultivado por ela. O mal é seu oposto. Este relativismo, praticado de forma radical, incapacita o indivíduo, qualquer indivíduo, de propor mudanças em sua própria cultura por entender a cultura como um sistema estático e imutável, um universo a parte, pressupondo que as presentes normas culturais são perfeitas em si. Nasce daí o purismo antropológico, que enxerga todo elemento cultural como relevante e absoluto, todo costume como funcional e toda prática como algo justificável, sem necessidade de avaliação ou contraste, mesmo pelo próprio povo.

A Universalidade Ética, por outro lado, pressupõe que os homens, povos e culturas fazem parte de uma sociedade maior que é a sociedade humana. E esta possui, em si, valores universais de moralidade como a dignidade, sobrevivência do grupo e busca pela continuidade da vida do indivíduo. Rouanet expõe que o homem não pode viver fora da cultura, mas ela não é seu destino, e sim um meio para sua liberdade. Levar a sério a cultura não significa sacralizá-la e sim permitir que a exigência de problematização inerente à comunicação que se dá na cultura se desenvolva até o seu descentramento. Este argumento nos leva a compreender que os conflitos são universais, como a morte, o sofrimento, a discriminação ou a repressão. Perante conflitos universais podemos compartilhar a mútua experimentação na busca de soluções internas. Ao conversar com um índio Tariano no Alto Rio Negro, depois de prolongada sessão de perguntas sobre o processo tradicional Tária de sepultamento, ele concluiu dizendo que “como vocês brancos devem também saber, não há morte sem dor”. A dor, universal, resultado de conflitos e mazelas também universais, pede soluções internas que devem ser compartilhadas em um diálogo construtivo.

Porém este não é um conflito puramente de idéias e teorias em um cenário antropológico. Lida com vidas, histórias e ambientes humanos.

Devemos reconhecer o direito de todo indivíduo de levantar-se contra os valores culturais experimentados pelo seu grupo e propor novas alternativas, especialmente nos casos em que há dano à vida, à dignidade ou à subsistência.

Devemos reconhecer que nenhuma cultura é estática ou isolada da sociedade humana. E que, pertencente a esta, partilha também os mesmos sonhos e conflitos. Que a ação dialógica, sob o manto da autonomia de cada povo, trás benefícios humanos que não estancam a vivência cultural pois práticas aceitas na atualidade remontam a decisões passadas, por critérios próprios ou adquiridos.

Devemos reconhecer que o Estado brasileiro deve tratar o infanticídio indígena de forma ativa, informando e dialogando com as sociedades indígenas em nosso país a respeito das alternativas para solução deste conflito interno, que isente a morte das crianças. Que garanta o direito de vida, criação e dignidade dos indivíduos, independente de seu segmento étnico.

Edson e Márcia Suzuki, etnolinguistas e missionários da JOCUM, colaboraram para a retirada de dois bebês da tribo Suruwahá em 2005 para tratamento apropriado em São Paulo, atendendo ao apelo dos pais. A retirada dos bebês os liberava do sacrifício por iniciativa da comunidade Suruwahá. Iganani, uma das crianças, chegou a ser deixada na mata para morrer mas foi resgatada pela mãe, por convencimento da avó. Tititu, a outra criança, quase foi flechada pelo pai que decidiu levá-la aos “brancos” a procura de ajuda. A mãe de Iganani chama-se Muwaji e explicitou seu desejo por ajuda. Desejava, a despeito da prática milenar comunitária de seu grupo, preservar a vida da sua filha. Os Suzukis, durante cerca de 20 anos vivendo entre os Suruwahá, contabilizam cerca de 28 casos de infanticídio no grupo. Este fato social, a preservação da vida por iniciativa indígena, de crianças que seriam sacrificadas na comunidade, abriu um precedente ético e comportamental entre os Suruawahá. É possível que percebam o que Pritchard chama de possibilidade de solução. Quando um povo, pela iniciativa de uma idéia ou ato, repensa suas soluções para o sofrimento e as adequa a práticas mais humanizadoras na cosmovisão do próprio grupo.

Envio em anexo o artigo “Não há morte sem dor - uma visão antropológica sobre a prática do infanticídio indígena no Brasil". Você pode também acessá-lo pelo site www.antropos.com.br - sessão Artigos Selecionados.

Minha sugestão é que você se interesse pelo assunto e ajude-nos nesta caminhada. Neste caso você pode:

1. Orar pela audiência pública no dia 5 de setembro e por diversas outras oportunidades de debate sobre o infanticídio. De forma especial pela aprovação da lei Muwaji.

2. Se inteirar do assunto e compartilhar sua relevância e urgência com formadores de opinião e políticos de nosso país.

3. Veicular o artigo que envio em anexo em sites, jornais e revistas. Trata de uma visão puramente antropológica do infanticídio indígena brasileiro e tem como objetivo divulgar as bases teóricas e morais para o repúdio a esta prática, valorizando o homem, a vida e as sociedades indígenas.

4. Enviar uma mensagem de apoio à aprovação da Lei Muwaji para a relatora Deputada Janete Rocha Pietá pelo e-mail dep.janeterochapieta@camara.gov.br

5. Se envolver com a ONG ATINI, com sede em Brasília, que no momento provê assistência aos sobreviventes de tentativas de infanticídio e luta com diversos desafios práticos no dia a dia. Acesse www.vozpelavida.blogspot.com

Que Deus nos guie e ajude.

Ronaldo Lidório

* Bacharel em Teologia pelo SPN – Recife/PE. Doutor em Antropologia pela Royal London University. Membro da American Anthropological Association. Pastor presbiteriano e membro da APMT e Missão AMEM. Consultor e autor de projetos de direitos humanos e reorganização social pós guerra em Gana, África, entre 1995 a 1999.

Email: ronaldo.lidorio@terra.com.br

Site: www.ronaldo.lidorio.com.br

Tuesday, August 14, 2007

Crimes na floresta

Série Reflexão Nacional

Olá Pessoal,

Fico perplexo ao ver a inconsistência dos "nossos" antropólogos e outras agências e líderes de nossa nação. Esses profissionais ao invés de elevarem a vida ao nível de gente feita por Deus e chamada para ajustar-se ao caráter do Pai eterno, sempre reduzem o ser humano ao nível do animal, ou seja, nivelam por baixo. Mas como? Sempre comparando-nos com os animais, ao invés de compararmo-nos com o Criador. Aí dizem: "certas raças de animais matam seus filhotes ao nascer"; para comprovar o homossexualismo dizem: "certos animais tem relações entre os do mesmo sexo" e por aí vai. Depois quando as pessoas agem como animais, matando, tirando o alimento (caça) do outro, sem respeito, sem amor e fazendo todo tipo de bestialidade, querem culpar o país, a liderança da nação, a falta de informação, etc. É incoerencia para mais de metro, como dizia meu pai e avó.

Leia e reflita.

Vida brasileira
Crimes na floresta

Muitas tribos brasileiras ainda matam crianças
– e a Funai nada faz para impedir o infanticídio

Leonardo Coutinho
Fotos Photoon e arquivo pessoal


A índia Hakani, em dois momentos.
Ao lado, abraça a mãe adotiva, Márcia, no seu aniversário de 12 anos. Acima, aos 5, em sua tribo: altura e peso de 7 meses



A fotografia acima foi tirada numa festa de aniversário realizada em 7 de julho em Brasília. Para comemorar os seus 12 anos, a menina Hakani pediu a sua mãe adotiva, Márcia Suzuki, que decorasse a mesa do bolo com figuras do desenho animado Happy Feet. O presente de que ela mais gostou foi um boneco de Mano, protagonista do filme. Mano é um pingüim que não sabe cantar, ao contrário de seus companheiros. Em vez de cantar, dança. Por isso, é rejeitado por seus pais. A história de Hakani também traz as marcas de uma rejeição. Nascida em 1995, na tribo dos índios suruuarrás, que vivem semi-isolados no sul do Amazonas, Hakani foi condenada à morte quando completou 2 anos, porque não se desenvolvia no mesmo ritmo das outras crianças. Escalados para ser os carrascos, seus pais prepararam o timbó, um veneno obtido a partir da maceração de um cipó. Mas, em vez de cumprirem a sentença, ingeriram eles mesmos a substância.
O duplo suicídio enfureceu a tribo, que pressionou o irmão mais velho de Hakani, Aruaji, então com 15 anos, a cumprir a tarefa. Ele atacou-a com um porrete. Quando a estava enterrando, ouviu-a chorar. Aruaji abriu a cova e retirou a irmã. Ao ver a cena, Kimaru, um dos avôs, pegou seu arco e flechou a menina entre o ombro e o peito. Tomado de remorso, o velho suruuarrá também se suicidou com timbó. A flechada, no entanto, não foi suficiente para matar a menina. Seus ferimentos foram tratados às escondidas pelo casal de missionários protestantes Márcia e Edson Suzuki, que tentavam evangelizar os suruuarrás. Eles apelaram à tribo para que deixasse Hakani viver. A menina, então, passou a dormir ao relento e comer as sobras que encontrava pelo chão. "Era tratada como um bicho", diz Márcia. Muito fraca, ela já contava 5 anos quando a tribo autorizou os missionários a levá-la para o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, em São Paulo. Com menos de 7 quilos e 69 centímetros, Hakani tinha a compleição de um bebê de 7 meses. Os médicos descobriram que o atraso no seu desenvolvimento se devia ao hipotireoidismo, um distúrbio contornável por meio de remédios.
Marcia Suzuki


Kasiuma e sua filha Tititu: ela convenceu a tribo a tratar a filha hermafrodita, em vez de matá-la
Márcia e Edson Suzuki conseguiram adotar a indiazinha. Graças a seu empenho, o hipotireoidismo foi controlado, mas os maus-tratos e a desnutrição deixaram seqüelas. Aos 12 anos, Hakani mede 1,20 metro, altura equivalente à de uma criança de 7 anos. Como os suruuarrás a ignoravam, só viria a aprender a falar na convivência com os brancos. Ela pronunciou as primeiras palavras aos 8 anos. Hoje, tem problemas de dicção, que tenta superar com a ajuda de uma fonoaudióloga. Um psicólogo recomendou que ela não fosse matriculada na escola enquanto não estivesse emocionalmente apta a enfrentar outras crianças. Hakani foi alfabetizada em casa pela mãe adotiva. Neste ano, o psicólogo autorizou seu ingresso na 2ª série do ensino fundamental.
A história da adoção é um capítulo à parte. Mostra como o relativismo pode ser perverso. Logo que retiraram Hakani da aldeia, os Suzuki solicitaram autorização judicial para adotá-la. O processo ficou cinco anos emperrado na Justiça do Amazonas, porque o antropólogo Marcos Farias de Almeida, do Ministério Público, deu um parecer negativo à adoção. No seu laudo, o antropólogo acusou os missionários de ameaçar a cultura suruuarrá ao impedir o assassinato de Hakani. Disse que semelhante barbaridade era "uma prática cultural repleta de significados".
Ao contrário do que acredita o antropólogo Almeida, os índios da tribo não decidem sempre da mesma forma. Em 2003, a suruuarrá Muwaji deu à luz uma menina, Iganani, com paralisia cerebral. A aldeia exigiu que ela fosse morta. Muwaji negou-se a executá-la e conseguiu que a tribo autorizasse seu tratamento em Manaus. Médicos da capital amazonense concluíram que o melhor seria encaminhar Iganani para Brasília. Antes disso, porém, foi necessário driblar a Fundação Nacional do Índio (Funai). O órgão vetou sua transferência com o argumento de que um índio isolado não poderia viver na civilização. Só voltou atrás quando o caso foi denunciado à imprensa. Agora, Iganani passa três meses por ano em Brasília. Aos 4 anos, consegue caminhar com o auxílio de um andador. Estaria melhor se a Funai permitisse que ela morasse continuamente em Brasília. Há dois anos, os suruuarrás voltaram a enfrentar uma mãe que se recusava a matar a filha hermafrodita, Tititu. A tribo consentiu que a menina fosse tratada por brancos. Em São Paulo, ela passou por uma cirurgia corretora. Sem a anomalia, Tititu foi finalmente aceita pela aldeia.
Fotos Photton


À esquerda, Amalé, sobrevivente de uma tribo que fez pose para a BBC. À direita, a deficiente Iganani com a mãe, Muwaji, que se negou a envenená-la
O infanticídio é comum em determinadas espécies animais. É uma forma de selecionar os mais aptos. Quando têm gêmeos, os sagüis matam um dos filhotes. Chimpanzés e gorilas abandonam as crias defeituosas. Também era uma prática recorrente em civilizações de séculos atrás. Em Esparta, cidade-estado da Grécia antiga que primava pela organização militar de sua sociedade, o infanticídio servia para eliminar aqueles meninos que não renderiam bons soldados. Um dos seus mais brilhantes generais, Leônidas entrou para a história por ter liderado a resistência heróica dos Trezentos de Esparta no desfiladeiro de Termópilas, diante do Exército persa, em 480 a.C. Segundo o historiador Heródoto, Leônidas teria sido salvo do sacrifício apesar de ter um pequeno defeito em um dos dedos da mão porque o sacerdote encarregado da triagem pressentiu o grande futuro que o bebê teria.
Hulton archive/Getty Images



Leônidas, o herói que entrou para a história: em sua Esparta bebês defeituosos eram mortos

Entre os índios brasileiros, o infanticídio foi sendo abolido à medida que se aculturavam. Mas ele resiste, principalmente, em tribos remotas – e com o apoio de antropólogos e a tolerância da Funai. É praticado por, no mínimo, treze etnias nacionais. Um dos poucos levantamentos realizados sobre o assunto é da Fundação Nacional de Saúde. Ele contabilizou as crianças mortas entre 2004 e 2006 apenas pelos ianomâmis: foram 201. Mesmo índios mais próximos dos brancos ainda praticam o infanticídio. Os camaiurás, que vivem em Mato Grosso, adoram exibir o lado mais vistoso de sua cultura. Em 2005, a tribo recebeu dinheiro da BBC para permitir que lutadores de judô e jiu-jítsu disputassem com seus jovens guerreiros a luta huka-huka, parte integrante do ritual do Quarup, em frente às câmeras da TV inglesa. Um ano antes, porém, sem alarde, os camaiurás enterraram vivo o menino Amalé, nascido de uma mãe solteira. Ele foi desenterrado às escondidas por outra índia, que, depois de muita insistência, teve permissão dos chefes da tribo para adotá-lo.
Há três meses, o deputado Henrique Afonso (PT-AC) apresentou um projeto de lei que prevê pena de um ano e seis meses para o "homem branco" que não intervier para salvar crianças indígenas condenadas à morte. O projeto classifica a tolerância ao infanticídio como omissão de socorro e afirma que o argumento de "relativismo cultural" fere o direito à vida, garantido pela Constituição. "O Brasil condena a mutilação genital de mulheres na África, mas permite a violação dos direitos humanos nas aldeias. Aqui, só é crime infanticídio de branco", diz Afonso. Ao longo de três semanas, VEJA esperou por uma declaração da Funai sobre o projeto do deputado e as histórias que aparecem nesta reportagem. A fundação não o fez e não justificou sua omissão. Extra-oficialmente, seus antropólogos apelam para o argumento absurdo da preservação da cultura indígena. A Funai deveria ouvir a índia Débora Tan Huare, que representa 165 etnias na Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira: "Nossa cultura não é estável nem é violência corrigir o que é ruim. Violência é continuar permitindo que crianças sejam mortas".


Reflitam nessa situação.


Heliel Carvalho

Friday, August 10, 2007

O Líder Encarnado

Série Discipulado/Liderança

Eduardo Cupaiolo
Publicado em 10.08.2007

Até onde a altura da minha ignorância me permite enxergar, ainda não encontrei uma forma de representar ampla e profundamente toda a complexa simplicidade da essência da liderança conforme vivida por Jesus. De algo, porém, não tenho qualquer dúvida: o quadro deve incluir a encarnação.

Mesmo tendo participado de tantos processos de transformação organizacional quantos me fizessem perder a conta, acompanhado ao vivo e em cores e estudado dezenas de outros casos de liderança, confesso que só recentemente percebi que a encarnação ou não dos líderes foi, é, e continuará sendo fator primordial que separa grandes sucessos de grandes fracassos. E que separa agilidade, rapidez e comprometimento, de postergação, negligência e falta de compromisso. Separa satisfação pela realização, da frustração pelo desperdício de tempo e esforços. Separa celebração de resultados, da busca desesperada de algum improvável sobrevivente do furacão que destruiu tudo por aqui. A distância astronômica entre o prazer do reconhecimento daqueles que nos levaram ao sucesso apesar das dificuldades do percurso, da caça às bruxas dos culpados por termos dado tantas voltas e não termos chegado a lugar nenhum.

Falemos, portanto do que estamos falando.

Estamos falando de um líder que faz parte e faz junto com os que fazem, não aquele que simplesmente espera que façam o que ele (já) disse (tantas e tantas vezes) que tinha de ser feito.

Aquele que nem sequer imagina que mais profunda do que a incoerência do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” é a necessidade de saber o sabor do que o outro come antes de falar da sua fome, é saber o frio que o outro passa antes de falar de solidariedade, é a necessidade de sentir a dor, a solidão, a prisão e a sede do outro antes de falar de nossa compaixão por ele. De viver junto antes de falar de comunhão. De tirar a placa de vaga reservada antes de falar de igualdade.

Aqueles imersos na ilusão de uma liderança asséptica. Sem contato. Sem toque. Sem risco de contágio. Por controle remoto. À distância. Por vídeo conferência. Pelo telefone. Via internet. Por e-mail. Do púlpito. Da matriz. Das salas de reunião. No Second Life, nunca na vida real.

Os alimentados da ilusão de que o líder tem de ser diferente de nós para que nós o admiremos. Ser distante para que o sigamos. Parecer divino para que o adoremos.

Como nos ensinou Peter Drucker ao falar das pequenas baixas entre os generais na 1a Guerra Mundial. Fruto da decisão de não mais acompanharem as tropas no campo de batalha. Exemplo histórico da liderança em que outros, não o líder, assumem os riscos e as conseqüências negativas pelo que for, ou não for feito. Num discurso já padronizado para resultados e responsáveis: pela derrota, eles; pela vitória, eu.

Liderança, liderança mesmo, precisa-se aprender. É esvaziar-se do eu e encarnar a forma do outro, é sentir o que ele sente, é viver o que ele precisa, é dar de si para atender suas carências.

Não é uma viagem do pó da terra até as nuvens do Olimpo, mas da infinitude da Eternidade para a finitude da História. Não é livrar-se da brevidade da existência na frieza do mármore de estátuas, mas na trama eterna que as linhas da nossa biografia tece com as linhas da biografia do outro.

Jesus, o Filho, é Deus. Sempre. Sempre Senhor de tudo e de todas prerrogativas, mas ao contrário dos que almejam a primazia, o posto mais alto, o destaque, o primeiro lugar, fez o caminho inverso. Para nos liderar, esvaziou-se.

Enquanto líderes se endeusam, Ele se humanizou. Enquanto líderes se afastam, Ele se aproximou. Enquanto eles se servem de nós, Ele nos serviu. Enquanto se isolam no último andar, Ele se deixou envolver por um útero adolescente. Enquanto eles se entronam em ouro, Ele se deitou no feno da manjedoura. Aqueles se cercam do brilho do luxo; Ele se cercou da pobreza dos mais pobres, da necessidade dos aflitos, da tristeza dos rejeitados, da escuridão dos cegos no corpo e no espírito.

Aqueles caminham suspensos sobre as cabeças dos mortais; Ele arrastou os pés pelo pó da terra, matéria prima do Seu e dos nossos corpos. Sendo Deus, fez de Si mesmo carne, para nos fazer eternos como Ele.

Aqueles se embriagam de sucesso, Ele se esvaiu no vinho de Seu sangue. Eles salvam a si mesmos sacrificando a todos que sujeitam. Ele sujeitou-se a salvar a todos pelo Seu sacrifício.

Liderança, liderança mesmo, não é um processo de expansão do eu, mas de sua limitação. Não é a trajetória entre o desejo de ter poder até ter todo o poder, mas caminho inverso, entre o privilégio de poder até a decisão de servir.

Ele é Ele

Série reflexão

Elben Lenz César
Publicado em 10.08.2007


Mesmo tendo qualidades éticas fora do comum, mesmo esmagado por toda sorte de sofrimento e mesmo sem entender a gritante desarmonia entre uma coisa e outra, o homem da terra de Uz tinha uma noção muito clara e abençoadora da soberania de Deus. O livro que leva seu nome revela essa certeza logo no início.

Imediatamente após a sucessão de desgraças — a perda de todos os bens (11.500 cabeças de gado) e a morte trágica dos dez filhos num único dia —, Jó prostrou-se, rosto em terra, em adoração, e disse: “O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor” (Jó 1.21).

Se não é comum atribuir a Deus o que temos e tudo o que somos, é mais raro atribuir à soberania de Deus a perda de tudo o que temos e a perda de tudo o que somos. Essa é outra evidência do sólido relacionamento que Jó mantinha com o Senhor.

A noção da soberania de Deus estava profundamente enraizada em Jó. Era uma bagagem que ele carregava em qualquer circunstância. Encontrava-se tanto no interior como na superfície, tanto no coração como nos lábios. Era uma espécie de calmante que o ajudava a suportar os duros e seguidos revezes. Era uma espécie de andador que o ajudava a caminhar sempre ao lado do Senhor, sem se indispor com ele. Era o suporte que o mantinha vivo apesar da verborragia arrogante e massacrante de seus três amigos e de Eliú. Era a rocha sobre a qual Jó construiu a sua casa religiosa, de forma que ela não ruísse sob a pressão dos ventos contrários. Era a armadura de Deus com a qual Jó poderia resistir a Satanás e às demais potestades do ar.

Em um de seus discursos de defesa Jó fez uma preciosa confissão de fé na soberania de Deus (capítulo 12):
“Em sua mão está a vida de cada criatura e o fôlego de toda a humanidade” (v. 10).
“O que ele derruba não se pode reconstruir; o que ele aprisiona ninguém pode libertar” (v. 14).
“Despoja e demite os sacerdotes e arruína os homens de sólida posição” (v. 19).
“Derrama desprezo sobre os nobres, e desarma os poderosos” (v. 21).
“Dá grandeza às nações, e as destrói; faz crescer as nações, e as dispersa” (v. 23).
“Priva da razão os líderes da terra, e os envia a perambular num deserto sem caminhos” (v. 24).

Jó enxergava a absoluta soberania de Deus no plano físico (capítulo 9):
“Ele transporta montanhas [...] e as põe de cabeça para baixo” (v. 5).
“Ele sacode a terra, e a tira do lugar” (v. 6).
“Fala com o sol, e ele não brilha; ele veda e esconde a luz das estrelas” (v. 7).
“Só ele estende os céus e anda sobre as ondas do mar” (v. 8).

Mas, de todas as muitas declarações da soberania de Deus, espalhadas em seus numerosos discursos, a que mais chama a atenção é aquela em que Jó encerra qualquer discussão sobre o assunto, com apenas três enfáticas palavras: “Ele é ele!” (23.13). Ou seja, frente à soberania de Deus, já não há o que declarar. Deus é Deus e pronto, cale-se toda a terra!

Vejamos esse pronunciamento em outras versões: “O que sua alma deseja é o que realmente faz” (Bíblia Hebraica); “Ele quer uma coisa e a realiza” (Bíblia do Peregrino); “Sua vontade, o que ela decidir, isto o fará” (Tradução da CNBB); “Ele faz o que bem lhe agrada” (Edição Pastoral Catequética). Na paráfrase da Bíblia Viva, o texto é um pouco mais longo e mais explicativo: “Tudo que ele quer, ele faz. Não há remédio! Deus vai fazer comigo tudo o que planejou, inclusive coisas que ainda estão para vir”.

Entre os atos soberanos de Deus que estavam para vir, um deles seria uma agradabilíssima surpresa para Jó: o Todo-poderoso poria um ponto final em seu sofrimento e mudaria totalmente a sua sorte (42.10-16). Então Jó poderia acrescentar mais uma pequena manifestação da soberania de Deus naquele primeiro pronunciamento sobre a questão (1.21): O Senhor o deu, o Senhor o levou e o Senhor o trouxe de volta. E de forma mais completa: o Soberano Deus me deu tudo o que eu tinha, o Soberano Senhor levou tudo o que havia me dado e o Soberano Senhor me devolveu em dobro tudo o que havia levado.

A certeza da soberania de Deus sobre tudo e sobre todos produz sobrevivência em meio aos infortúnios, à dor, à incompreensão alheia, à doença, à morte, aos poderes das trevas e às monstruosas estruturas hostis a Deus e ao homem. Nem o mundo nem a história estão acéfalos, por isso podemos ter esperança. Assim como Jó, teremos surpresas, pois “olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam” (1 Co 2.9). Não é verdade também que “os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que nos será revelada” e que “a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra” pelo Soberano Senhor (Rm 8.18-21)?

Wednesday, August 08, 2007

Pais terceirizados

Série Discipulado

Alexandra Guerra Castanheira


“Esta é, com certeza, a geração mais abandonada de todos os tempos.” Afirma o psicólogo inglês Steve Biddulph, um dos mais requisitados especialistas em educação de crianças. “Pesquisas feitas na Inglaterra mostram que os pais passam apenas seis minutos proveitosos com seus filhos por dia. Não basta dar comida, presentes, sentar em frente da televisão e esperar que seu filho tenha um comportamento exemplar.” (Revista Veja, 21 de Julho, 2004. P. 76) A falta de tempo para se dedicar aos filhos, é uma conseqüência da época em que vivemos, e tem afetado drasticamente a educação das crianças.

Existe uma maneira de não gastar tempo com filhos, basta não tê-los. Mas parece que alguns pais, bem mais moderninhos, descobriram outra forma de criar filhos gastando o mínimo de tempo: a terceirização.

Uma das características do século XXI é a terceirização, ou seja, passar para terceiros a realização de determinadas tarefas. Para evitar trabalho e dores de cabeça contrata-se uma firma especializada, para cuidar de certos setores. Chegamos a ponto de terceirizar até a criação de nossos filhos!

O que deveria ser um apoio para os pais na formação do ser humano acabou tomando o lugar deles, veja só:

A educação, tanto acadêmica como a formação ética e moral, foi passada para as escolas. Nas reuniões de pais as escolas andam pedindo ajuda aos pais para que os alunos cumpram com seus compromissos escolares, respeitem os colegas e funcionários... e os pais respondem com um pedido de socorro: Eu não sei mais o que fazer com este menino, façam o que quiserem! Ao ser chamada na escola de seu filho pela 4ª vez, uma mãe alegou que não tinha tempo para o filho porque estava trabalhando muito para lhe proporcionar uma vida melhor.

Os cuidados diários foram transferidos para os irmãos mais velhos, tios, e até para os vizinhos, que dão uma “olhadinha” de vez em quando na criança. Sozinhas em casa muitas se sentem inseguras e abandonadas. Uma mãe foi para os USA e deixou a filha de quatro anos com o pai. A criança disse que a mãe foi ganhar dinheiro e vai mandar um celular para ela. Parece que a filha aprendeu rápido a lição que a mãe lhe deu: coisas valem mais que pessoas.

A formação do caráter agora é eletrônica: a tv e os jogos eletrônicos cuidam disso. Muitas meninas se vestem e agem imitando toda a sensualidade das animadoras de auditório; maquiagem e cantadas nos meninos já são comuns. Os meninos falam e se portam seguindo os modelos que têm de violência e desrespeito; chutam, batem e quebram.

A educação moral e cristã já virou função da igreja. Pais cristãos levam as crianças para as classes bíblicas para descansarem de mais esta responsabilidade. Muitos nem sabem se seus filhos já confessaram a Jesus como seu Senhor e Salvador (Rm 10.9,10).

Todos estes serviços e pessoas podem e são ajudas preciosas e têm seu papel na formação das personalidades, mas nunca deveriam tomar o lugar que cabe aos pais.

Será que a falta de tempo nos levou a isto?

Lídia Weber, psicóloga; em entrevista a revista Veja em 02/06/04, disse: “Educação é trabalho. Se você tem um relatório para entregar no dia seguinte, vira a noite mas o faz. Por que muitas pessoas não têm esse empenho quando se trata de educar suas crianças.”

Realmente nossos valores estão se invertendo. Hoje o que vale é ter mais e nem tanto ser mais. Precisamos entrar em estado de alerta! A Bíblia diz: Não imitem a conduta e os costumes deste mundo, mas seja, cada um, uma pessoa nova e diferente, mostrando uma sadia renovação em tudo quanto faz e pensa. E assim vocês aprenderão, de experiência própria, como os caminhos de Deus realmente satisfazem a vocês. Romanos 12:2; Bíblia Viva. Siga os preceitos de Deus e Ele lhe trará satisfação verdadeira.

Também conheço mães e pais, que realmente precisam gastar boa parte do tempo trabalhando, mas se empenham para investir tempo de qualidade em seus filhos. Sabem onde eles estão, com quem andam, como vão na escola, o que lhes dá alegria, o que lhes entristece; conhecem seus filhos. Amam, disciplinam, sabem dar os limites necessários. Quando não sabem, procuram ajuda com pessoas e literaturas adequadas, sem no entanto, transferirem a terceiros a missão de educar seus herdeiros.

O que seu filho mais precisa é de você. Não dá para ser pai e mãe por correspondência ou só por telefone. Educar é relacionar. Relacionar gasta tempo, energia, paciência, negação de si mesmo; e por outro lado; produz caráter, alegria, equilíbrio, saúde, felicidade.

Uma vez pedi ao Dr. Russell Shedd que orasse por mim, pelo meu ministério de ensino. E a primeira coisa que ele mencionou na oração foi minha vida familiar. Ele pediu que eu fosse uma boa mãe e boa esposa. Que exortação este mestre me deu neste dia! Orou pelo ministério de mãe e esposa, os principais da vida.

Não dá para terceirizar a responsabilidade de educação dos filhos, pois foi o próprio Deus que a delegou aos pais: “E você deve meditar sempre nestes mandamentos que hoje estou ordenando – os quais você deve ensinar aos seus filhos. É preciso que você converse sobre estas leis quando estiver em casa, quando estiver andando pôr algum caminho, na hora de dormir e logo ao despertar.” Dt. 6:6,7. Nada é mais importante que a educação de seus filhos! Nem carreira, nem bens materiais, nem a pia sempre limpa. Crianças precisam de pais que a amem o suficiente para investir tempo neles, amá-los e dar-lhes limites e liberdade na dose certa para serem felizes. Que Deus lhe dê amor, sabedoria e coragem para educar seus filhos como eles precisam ser educados. Invista em seus filhos, é sua missão e vale a pena!


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Meu pai, meu melhor discipulador

Série Discipulado

Luiz e Regina Vasconcelos Nos dias atuais temos observado que a família tem transferido a responsabilidade da educação dos filhos para as instituições. A educação humanista, secular é responsabilidade da escola, a educação religiosa é responsabilidade da igreja, mas os pais não se dão conta de que a responsabilidade maior pela formação do caráter de uma criança é deles. Não que as instituições não tenham participação relevante nesse processo, porém, é na família que a criança terá todas as referências necessárias para a formação e desenvolvimento da sua personalidade.

Provérbios 22:6 diz: "Ensina a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele" . O grande problema é que na maioria das vezes, os pais entendem que a fase da criança aprender só começa aos 3 ou 4 anos, ou acham que a criança só começa a entender alguma coisa nesta idade. Eles não percebem que antes disso ela aprendeu a andar, a falar, a reivindicar a satisfação da sua vontade, a bater o pé quando é confrontada, etc., e quando a Bíblia nos diz "ensina a criança", ela esta dizendo que é desde o útero que esta criança pode e deve ser ensinada.
Nós, os pais, quando transferimos para outros a educação, ou o discipulado, dos nossos filhos, corremos o risco de ver impresso no caráter deles a marca de um educador ou discipulador que pode ser bom ou ruim, dependendo dos valores que tal pessoa tem, sem contar que muitas crianças, por não terem no pai um bom referencial de autoridade (Ef. 6:4) , de amor, de carinho, e de disciplina (Pv .23:13 e 14) passam a ver como referencial os professores e pastores que, sem querer, ou de forma involuntária, acabam tirando a autoridade dos pais. Então, os filhos acabam honrando pessoas estranhas, quando, na verdade, essa honra deve ser dirigida aos pais, para que o filho possa atrair as bênçãos de Deus sobre si (Ef 6:2 ; Ex 20:12).

Nestes dias precisamos estar atentos a tudo aquilo que vem agredir aos nossos filhos, como os meios de comunicação, que declararam guerra contra as crianças, os adolescentes e os jovens, transmitindo "entretenimentos" degenerados e nocivos para dentro dos nossos lares, com anúncios publicitários que exploram os desejos e as fraquezas dos nossos filhos.
As crianças crescem muito rápido. Hoje, mal começam a respirar e já são lançadas num mundo adulto, agressivo e permissivo. A sociedade concentra-se cada vez mais nos desejos dos adultos e as crianças são as perdedoras.

Nós, pais, temos que entender que somos os melhores discipuladores dos nossos filhos e diante de Deus somos os responsáveis para ensinar-lhes os estatutos, os mandamentos e preceitos divinos. Em Deuteronômio 6:2 e 7 o Senhor nos diz "para que temas ao senhor teu Deus e guardes todos os meus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu e teu filho, e o filho do teu filho, todos os dias da tua vida e para que se prolonguem os teus dias" e "as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando nele pelo caminho, e ao deitarte e ao levantarte ".

Então, o Senhor responsabiliza a nós, os pais, para ensinarmos aos nossos filhos tudo aquilo que vai compor a personalidade, a alma e o caráter deles, para apresentarmos ao Senhor uma herança plantada na Sua casa, rendendo frutos para o reino, prontos para serem alistados no exército do Grande Rei (Sl 127:3) e não uma herança drogada, prostituída, com um mal testemunho como os filhos de Eli, Hofni e fineias (1 Sm 2:12-17; 27-34) que se tornaram malditos aos olhos de Deus.

Nós, os pais, somos os responsáveis para ensinar aos nossos filhos a bondade e a misericórdia com que Deus nos trata. Devemos ter a consciência de que somos a janela pela qual eles verão a Deus, o espelho que vai refletir neles a imagem de Jesus. Então eles serão como árvores plantadas junto a ribeiros de águas, que darão fruto na estação própria, e, o que é melhor, tudo o que fizerem prosperará (Sl 1:3).

Você, papai, é o melhor discipulador do seu filho. Assuma isso e a sua descendência será alvo da graça de Deus.

Luiz e Regina Vasconcelos
Pastores da Rede de Crianças - MIR

Tuesday, July 31, 2007

Diário Oficial da União publica os gastos do Planalto

Quando recebi as informações, fui verificar se de fato procedia. E por incrível que pareça numa pequena pesquisa no google você perceberá inúmeros destes relatos. De duas uma, ou estão todos estes que publicaram a matéria mentindo ou esta matéria é fato e uma vergonha terrível, incalculável e fétida para cada um de nós. Que Deus tenha misericórdia de nós e nos ajuda em primeiro lugar viver em retidão nas pequenas coisas, em segundo, aprender a protestar. (se alguém tiver uma maneira de protestar por favor me envie).

Está no Diário Oficial da União, com número de licitação e tudo:

DESPESAS DO GABINETE PRESIDENCIAL
1995 - FHC - R$ 38,4 milhões.
2003 - Lula - R$ 318,6 milhões.
2004 - Lula - R$ 372,8 milhões (R$ 1,5 milhões por dia útil de trabalho).

Quer mais? NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS NO PALÁCIO DO PLANALTO
Itamar Franco - 1,8 mil FHC - 1,1 mil Lula - 3,3 mil
PS: No Palácio da Alvorada, existem 75 empregados. O ano passado Lula
assinou um decreto, de número 5.087, aumentando de 27 para 55 seus
assessores especiais diretos.

O processo de licitação de número 00140.000226/2003-67,
publicado no Diário Oficial da União, previu
a compra de 149 itens para o Palácio. Constam:

- sete toneladas de açúcar; - duas toneladas e meia de arroz;
- 400 latas de azeitona; - 600 quilos de bombons;
- 800 latas de castanhas de caju; - 900 latas de leite condensado...

O pior é que pelo prazo da licitação,tudo deverá
ser consumido em 120 dias... Constam ainda:

- dois mil vidros de pimenta; - dois mil e quinhentos rolos de papel alumínio;
- quatrocentos vidros de vinagre; - quatrocentos e sessenta pacotes de sal grosso e
- seis mil barras de chocolate.

Com uma calculadora, você concluirá que
os Inácio da Silva consome por dia:

- 58 quilos de açúcar (ou dona Marisa faz muito bolo
ou Lula toma muita caipirinha...);
- 22 quilos de arroz;
- 50 barras de chocolate;
- 15 vidros de pimenta...pimenta???

Como a repercussão dessa compra foi negativa, Lula da Silva mandou
tirar do site oficial do governo o processo de licitação,
que já havia sido publicado na edição número 463 do Diário Oficial.

O Gabinete da Presidência comprou um pouco
de tudo para beber. Entre os itens:

- 129 mil litros de água mineral (consumo:mais de mil litros por dia);
- duas mil latas de cerveja;
- 35 mil latas de refrigerante;
- 1344 garrafas de sucos naturais;
- 610 garrafas de vinho (consumo de cinco por dia);
- 50 garrafas de licor.

A sede dos deslumbrados vai além, mesmo com muita gente
morrendo por falta de água no sertão, que Lula diz conhecer bem.
Em outra licitação,(00140.000228 /2003-56),
o Presidente, que devia ser exemplo, mandou comprar para seu Palácio:-

- 495 litros de suco de uva;
- 390 litros de suco de acerola;
- o mesmo tanto de suco de maracujá, laranja, tangerina e manga.

Outra compra diz a respeito a 2.250 quilos de pó de café.
Numa conta simples, este valor resulta em 2145 cafezinhos por dia.
Desse jeito Lula da Silva vai acabar perdendo o sono.

A farra não termina por aqui. Numa outra compra (00140.000126/2003-31)
Lula prova que é bom de estômago:

- três toneladas e meia de batata:
- duas mil dúzias de ovos; - duas toneladas de cebola e
- uma tonelada de alho porró. Na mesma compra tem mais:
- 2400 abacaxis; - uma tonelada e meia de banana;
- outro tanto de ameixa e ainda - uma tonelada de caqui.

Pelo que se entende de outra compra (00140.000227/2003-10),
dona Marisa Letícia anda cozinhando pra fora, servindo marmita.
Foram comprados para serem consumidos em 120 dias:

- dez botijões de gás de dois quilos; - 170 botijões de 13 quilos;
- 20 cilindros de 45 quilos e mais - 45 toneladas de gás a granel.
(Continha simples: 24 botijões por dia consumidos)

Quer mais farra? Então aqui vai com o que mais
o gabinete da presidência mandou comprar:

- dois mil CDs para gravação, com as respectivas caixinhas, e
- 20 mil disquetes.. Estaria Lula montando uma gravadora pirata?

E alguém tem idéia de quanto se paga
de roupa lavada no Palácio, em 120 dias?

- 54 toneladas - ou 13 toneladas e meia por mês, ou ainda, 450 quilos de
roupa por dia.

Apesar da lavanderia, o DO aponta outra compra,
curiosa, a de número 00140.000143/2003-78:
- 300 colchas; - 330 lençóis; - 300 fronhas;
- 50 travesseiros; - 66 cobertores; - 15 roupões;
- 20 jogos de toalha; - 20 toalhas de banho e - 120 colchões

Quando o novo Presidente chegou, o Gabinete comprou:

- dois fogões; - duas cafeteiras; - quarto fornos de microondas;
- quatro geladeiras; - oito ventiladores; - seis aparelhos de ar condicionado;
- dois bebedouros; - sete televisores; - dois aparelhos de CDs;
- três liquidificadores; - uma sanduicheira; - um frigobar.
Se quiser mais, confira: http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=3398

Wednesday, July 25, 2007

CARTA AOS PARLAMENTARES BRASILEIROS

Série Protestos

(Este texto será entregue juntamente com os lenços da última manifestação do Rio de Paz, a todos os parlamentares brasileiros, no dia 05 de junho de 2007, às 15h, no Salão Verde do Congresso Nacional, em Brasília.) Veja as fotos da entrega desta carta

COALIZÃO PARLAMENTAR E DA SOCIEDADE CIVIL CONTRA O CRIME

“Essa foi uma época em que toda a Inglaterra trabalhou e se esforçou até o limite máximo e esteve mais unida do que nunca. Homens e mulheres esfalfavam-se nos tornos e máquinas das fábricas até caírem no chão, exaustos, e terem de ser arrastados para longe e mandados para casa, enquanto seus lugares eram ocupados por outros que já haviam chegado antes da hora... o sentimento de medo parecia ausente do povo, e seus representantes no parlamento não ficaram aquém deste estado de ânimo... muitíssima gente se mostrava decidida a vencer ou morrer”.

O relato acima foi feito pelo primeiro-ministro britânico Winston Churchill logo após o término da Segunda Guerra Mundial. Com profunda gratidão pela bravura do povo inglês, num período em que a Inglaterra encontrava-se solitária na resistência ao Nazismo, o grande estadista lembra-se daqueles dias em que sua pátria foi salva pelo suor, união e coragem do seu próprio povo e do seu parlamento.

Não resta dúvida de que o nosso país carece de uma mobilização desta natureza por parte da sociedade civil e do parlamento brasileiro. Estamos assistindo, nesses últimos anos, no Brasil, a um verdadeiro genocídio. Milhares de brasileiros estão sendo mortos anualmente numa escalada sem paralelo entre as nações do mundo moderno. São 41.000 assassinatos por ano, num contexto de milhares de desaparecidos. Só no Rio de Janeiro, em 2007, já foram mortos 2.000 seres humanos, numa média mensal de 300 desaparecidos. Sabemos que a situação não é diferente nos demais Estados da federação que, infelizmente, com a exceção de uns poucos, não mantêm as estatísticas oficiais da violência atualizadas.

Qualquer análise comparativa mostra que somos os líderes em criminalidade no mundo. Recentemente, a revista Veja publicou, numa reportagem especial sobre a criminalidade no Brasil, dados assustadores e humilhantes para a nossa nação. Com base em informações do Ministério da Justiça do Brasil (2005), ONU (2002-2004) e governo da Itália (2005), a referida revista apresentou os seguintes números: Para cada grupo de 100.000 pessoas, 5,6 são assassinadas por ano nos Estados Unidos, 1 na Itália, 13 no México e 1,7 no Chile. No Brasil, este número chega à surreal estatística de 22,2 assassinatos por ano.

Não há necessidade social maior no Brasil de hoje do que uma ação radical do poder público, em parceria com a sociedade civil, no campo da segurança pública. Milhares de famílias brasileiras estão de luto. Basta multiplicar cada morte pelo número de familiares das vítimas de homicídio para dimensionar a extensão da dor. É a vida que se foi e a vida que ficou. A vida que foi interrompida e a vida que foi marcada para sempre. Em suma, os milhares que deixaram de viver e os milhares que não sabem o que fazer para encontrar sentido na vida. Até quando a democracia brasileira suportará tudo isso? O povo brasileiro tem expressado menosprezo pela sua pátria e dúvida quanto à viabilidade da democracia. A democracia, infelizmente, não é mais um valor inegociável no coração de muitos cidadãos brasileiros. Isto precisa ser dito. Qual cidadão desse país nunca ouviu alguém falar: “no tempo da ditadura militar não era assim”, “o Brasil só funciona com ditadura”? O brasileiro está começando a raciocinar da seguinte forma: entre o valor da vida e o valor da liberdade, é preferível a vida, pois não há sentido em se falar sobre liberdade sem que o direito à vida esteja assegurado. Isto é trágico, pois a vida e a liberdade são valores indispensáveis para obtenção da felicidade humana.

O que nos levou a conviver pacificamente com a morte de tantos compatriotas? Será que um dia não haveremos de nos envergonhar de termos feito parte de uma geração de brasileiros que não se indignou com tudo isto e tratou de fazer algo de concreto? Será que as gerações futuras de brasileiros não se envergonharão da nossa geração tal como o povo alemão se envergonha dos seus pais, que conviveram com o Nazismo? O pastor Martin Luther King descreveria muito bem o que deve nos surpreender tanto quanto a prática indiscriminada do crime no Brasil: “Não me surpreendo com o grito dos maus, mas sim com o silêncio dos bons".

Povos do passado, unidos, venceram conflitos mais graves do que os nossos. Nós, brasileiros, estamos diante da possibilidade de fazer correr pelo mundo inteiro a notícia de que a batalha contra o crime no nosso país foi vencida por um povo que, ao lado do seu parlamento, tratou de fazer custar caro o sangue do brasileiro.

Antonio Carlos Costa
Rio de Paz.

Saturday, July 21, 2007

POR QUE NÃO CONTINUAMOS ....?

SÉRIE GRUPO FAMILIAR
Rev. Heliel Carvalho

É fácil observar a naturalidade que nascem alguns projetos. Os grupos familiares são um exemplo disso. Normalmente os chamamos também de grupos pequenos, reuniões nos lares, células, grupos de comunhão. Nesta reflexão não estou preocupado com a nomenclatura, quero pensar na benção da reunião de pequenos grupos de pessoas para vivenciar a Palavra. Seja para evangelismo, discipulado ou mesmo para o culto a Deus na família, a conhecida e por vezes esquecida reunião no lar, ou culto doméstico. Especialmente, lembro-me de algumas doces experiências quando ainda criança na Igreja Presbiteriana na cidade de Cristina-MG. Igreja esta com aproximadamente 60 membros. Nos meses de maio de cada ano, a igreja realizava reuniões nos lares todos os dias de determinada semana. Não havia nada de especial naquela reunião, não havia uma estratégia específica, um preparo de liderança, mas mesmo assim, era uma alegria aqueles momentos. A própria igreja parecia ficar mais viva. Os membros tinham uma comunhão intensa, devido a intimidade que proporciona o lar. Andávamos pelas ruas alegres. Havia uma integração entre crianças, adolescentes, jovens, anciões e senhoras, mesmo sendo poucos, e, talvez por isso mesmo. O calor do lar, as experiências trocadas, as brincadeiras daqueles irmãos mais extrovertidos e o lanche gostoso. Não era difícil ir para esta reunião, na verdade esperávamos ansiosos este momento, eu pelo menos.
Mais tarde, lendo a história de igrejas como a Presbiteriana Pioneira de Anápolis-GO, Terceira Presbiteriana de Itajubá-MG, Igreja Presbiteriana Ebenézer em Itajubá-MG, Igreja Presbiteriana de Apiaí-SP, vemos como estas no seu início utilizaram e incentivaram os lares tanto para o culto doméstico, família consangüínea, quando para grupos familiares, família da fé. Além destas leituras já ouvi inúmeras histórias de igrejas que nasceram nos lares: Igreja Presbiteriana de Praia Grande-SP, uma igreja da Assembléia de Deus ministério de Anápolis que floresceu no Japão, através de um casal. Esta nasceu num lar, fruto de um membro desta que foi trabalhar naquele País. Na verdade, poderíamos, eu e você, enumerar histórias e mais histórias de igrejas que assim nasceram.
O mais interessante é que se voltarmos ao cristianismo primitivo leremos os mesmos relatos, ou seja, as casas sendo amplamente usadas por Jesus e sua igreja. O livro dos Atos dos Apóstolos ou Atos do Espírito Santo, registram que aquela igreja se reunia “no templo e de casa em casa” (At 2.46; 5.42; 20.20). Isso por ter como modelo Jesus, que utilizou grandemente o lar como centro de pregação, ensino, cura e ao comissionar seus discípulos enviou-os para pregar nas casas. Veja, somente em Mateus, quantos registros temos de Jesus utilizando as casas no seu ministério: (Mt 9.10, 23,28; 10.6,12-14;13.1; 17.25; 26.6,18).
Depois temos o apóstolo Paulo e a igreja primitiva seguindo o exemplo de Jesus e a metodologia do culto nas casas (ver Apostila o Ano da Transição, Módulo 1, p. B 2 do MIC). A casa de Jason em Tessalônica (At 17.5). A casa de Tício, o Justo, situada ao Lado da sinagoga em Corínto (At 18.7). A casa de Felipe em Cesaréia onde os missionários eram recebidos (At 21.8). A casa de Lídia em Filipos local de encontro como para hospedar Paulo (At 16.40). Áquila e Priscila parecem ter mantido uma igreja em sua casa onde quer que eles morassem, seja em Corinto, seja em Roma (Rm 16.3-5, At 18.3; 1Cor 16.19). A casa do carcereiro Felipe era usada como centro de evangelismo depois de sua conversão (At 16). Toda a família de Estéfanes foi batizada pelo próprio Paulo e ele aparentemente usava essa casa “para o serviço dos santos” (1 Cor 1.16;16.15). A sala superior de uma casa pertencente à mãe de Marcos em Jerusalém foi o primeiro local de encontros da igreja (At 12.12). A casa de Filemom também foi citada como local de encontro de cristãos (Fm 1,2). “Não deveria causar-nos surpresa que a “igreja nas casas” tornou-se um fator crucial no desenvolvimento da fé cristã”, comenta Michael Green (Evangelism in the Early Church. Hodder & Stoughton: london, 1970, p. 208).
Ainda, o doutor coreano John Oak citando Lawrence Richards comenta: “A igreja de Corinto não foi edificada como as igrejas de hoje. É bem conhecido o fato que a igreja era formada por 20 a 30 igrejas nos lares. As igrejas, depois do período do Novo Testamento, seguiram o mesmo modelo e se espalharam como fermento em todas as direções” John Oak contiua sua análise agora citando o Teólogo Verkuyl: “eles tiveram comunhão por meio de uma alta mobilidade como igrejas nos lares ou centros de atividades. Eles se encontravam privadamente ou em público. A comunhão no grupo pequeno penetrou em cada camada da sociedade. Consequentemente, mediante a comunhão dinâmica, aqueles que entraram em contato com eles ouviram a mensagem da salvação e testemunharam o poder do Evangelho. Eles se multiplicaram lentamente e se expandiram de um modo ordenado”.
Depois destes breves relatos poderíamos perguntar. Por que não damos prosseguimento no que foi a base e início da igreja cristã e de nossas igrejas depois de quase 2000 anos? Por que não evoluímos e melhoramos essa estratégia tão poderosa? E se abandonamos, por que não voltamos a esse princípio tão claro nas Escrituras? Por que não repensá-los se em grandes momentos da história da igreja os lares foram utilizados tanto na edificação e amadurecimento dos crentes, para o desempenho do seu serviço (Ef 4.12), e para o crescimento da igreja, como conseqüência?
Fica aqui estas perguntas para que tentemos respondê-las. Pela graça de Deus temos hoje no Brasil igrejas que tem repensado e implantado este trabalho. Líderes amados que tem se colocado a serviço da Igreja evangélica brasileira para treinar pastores e líderes. Temos boa literatura, ferramentas e gente com experiência comprovada. Desta forma, incentivo você a no mínimo pensar no assunto. Quem tem coragem de refletir que reflita... Por que não continuamos ...?

Friday, July 20, 2007

BARREIRAS A VIVÊNCIA DO DISCIPULADO NA IGREJA


Série discipulado.
Heliel Carvalho


Hans Weber comenta sabiamente. “... a descoberta do custo do discipulado frequentemente resulta em declínio do número de membros da igreja; a missão no Novo Testamento não está ligada a estatísticas, mas sim a sacrifícios.” Hans R. Weber

Ao mesmo tempo que a citação acima parece muito pessimista e não verídica, ela tem sua confirmação no discipulado de Jesus (Jo 6.66) e na experiência de muitas igrejas na história. O discipulado exige sacrifício, é como andar na contramão da história, não só da história do mundo, mas também na história da igreja. Visa a mudança do caráter muito mais que só oferecer conhecimento. Altera os valores da pessoa e não somente os costumes. O alvo é impossível simplesmente pela ação humana, pois visa tornar o discípulo semelhante a Jesus (Rm 8.29) e de alguma forma mexe com a estrutura total da igreja.
Tendo em vista as dificuldades enfrentadas nesse processo, analisemos três vertentes principais da resistência ao discipulado. A igreja (eclesiologia), os líderes (pastores e lideres em geral), e o povo (os membros da igreja). Ao fazermos tal análise, objetivamos compreender os mesmos, até, para que não fiquemos decepcionados ao apaixonarmos por um princípio tão cristalino nas escrituras, porém, ao caminharmos para a prática na vida da igreja, podemos encontrar grandes dificuldades de vivenciá-los. O que parece contraditório, visto que se a igreja foi gerada pela Palavra, deveria entender e vivenciar quase que automaticamente esta Palavra. Observemos então.
Primeiro, o sistema da igreja. Sabemos que nos primeiros anos da igreja, esta era extremamente relacional, mantendo um sistema que compreendia o lar e o templo (At 2.46; 5.42 e 20.20). Contudo, com a mudança provocada por Constantino (272-337) por volta do ano 312 d.C, a igreja deixou de ter esses dois braços, “no templo e de casa em casa”, como lugar de reuniões e discipulado. Praticamente a igreja limitou-se a celebrações no templo, inclusive usando velhos templos pagãos. Recebeu do estado alguns benéficos como sacerdote pago, ausência de impostos, entre outros. Daquela época até hoje homens de Deus tentaram mudar esse sistema buscando o retorno da igreja para uma vivência mais informal, relacional e discipuladora. E que para esse fim utilizasse o templo e a casa para reuniões e amadurecimento na fé. Alguns obtiveram mais sucessos (Baxter, Whitefield, Wesley), outros menos (os anabatistas, Lutero).
O fato é que nascemos e fomos educados numa igreja com o sistema de Constantino, apesar de termos uma boa Teologia, a Reformada, ficamos com o sistema Romano. Eis aqui um dos grandes inibidores do discipulado - o sistema - que de alguma forma engessa, valoriza extremamente o templo, o domingo, “o sacerdote”, a religiosidade - aquela formalidade que agrega inúmeros apetrechos a simplicidade da vida cristã, entre outros. Com isso, chegamos ao ponto de cristãos não conceberem que foram visitados se o pastor não esteve presente. Não considerarem o culto como tal, se não for no templo. Considerarem um tremendo desrespeito realizar um jantar da igreja no templo, mesmo que não tenha outro lugar para se fazer. Na verdade, sacralizamos o templo e desacralizamos a igreja (povo). John Oak no Livro “O chamado para acordar o Leigo”, cita Lawrence Richards que diz: “alguns teólogos lamentam que Lutero proclamou o sacerdócio de todos os crentes, mas cerca de 500 anos depois as estruturas das igrejas negam isto”. Nesse sistema que está impregnado em nós é quase automático pensarmos que servir a Deus, seja, freqüentar o culto no domingo e algum outro dia da semana, contribuirmos para a igreja e termos um bom caráter. Discipulado não entra aqui a não ser na idéia de discipulado como a simples transmissão de conhecimento bíblico.
Segundo. Os líderes - tratamos aqui daqueles que de alguma forma estão mais envolvidos no direcionamento e no ministrar a igreja. A dificuldade em pensar no discipulado se dá visto que: 1) é mais fácil preparar sermões e entregá-los no domingo a noite e em algum outro dia da semana, fazendo visitas aos que necessitam do que relacionar com pessoas que como nós tem problemas e dificuldades de relacionamento; 2) é mais fácil ficarmos a uma certa distância das pessoas, não permitindo que vejam nossos defeitos, problemas e também pontos positivos, do que nos envolvermos a ponto de não sermos mais vistos como o “pastorzão”, o “ungido”; 3) é mais fácil convivermos com crentes, e aqui tenho minhas dúvidas se de fato é, em algumas ocasiões específicas do que largarmos nosso estudo, grupo de amigos seletos e demais prioridades, do que envolvermos com não cristãos afim de transmitirmos vida e ao mesmo tempo sermos modelos do rebanho; 4) é mais fácil mantermos uma certa distância dos crentes do que de alguma forma envolvermos em suas vitórias e problemas e ser incomodados pelo Espírito de Deus a repartir nossa vida e pertences com os eles; 5) é mais fácil ficarmos de longe do que arriscarmos a trabalhar pessoalmente com pessoas que não darão frutos e outros no mínimo, como nós, demorarão anos para serem transformados em seu caráter.
Isto posto, penso que estes cinco argumentos são suficientes para mostrar que o discipulado enfrenta barreiras também por parte dos líderes. Para mim, é exatamente aqui que temos a principal barreira. Especialmente se de alguma forma, os líderes ainda não tiveram seus valores mudados, a fim de, moldarem-se aos princípios vividos e ensinados por Jesus.
E por último. Os membros da igreja, o povo. A minha percepção é que temos pelo menos três grupos aqui. A) uma boa parte dos membros ao ouvirem sobre discipulado e as implicações destes chegam a se despertarem e até a ansiarem por viver tais valores, apesar de ainda não entenderem as implicações deste na prática; B) outro grupo fica na espreita, a princípio analisando a vida do proponente destes princípio e ao mesmo tempo suas propostas. Eles até querem, mas tem medo de ser mais uma novidade do pastor. Tem medo de engajar no projeto e daqui a uns 3 a 5 anos, no máximo, o pastor achando uma proposta de ministério melhor deixe a igreja. Do outro lado, acontece também do pastor querer desenvolver um projeto a longo prazo e ser demitido pela liderança desta, por não encaixar “no perfil da mesma”. C) o último grupo são aqueles que não querem saber de nada. Não querem ser incomodados, estão tremendamente felizes com o sistema da igreja – os "3s": salvo, seguro e satisfeito. Qualquer proposta, mesmo que tenha apoio bíblico é visto como “novidade”. Estes chegam a fazer cara feia. Não querem nem ouvir a proposta, não tem coragem de analisar. São aqueles que participam da reunião somente de “corpo presente”.
Somam-se a estes fatores as questões teológicas solidificadas pela mensagem oculta, passada anos a fio: o trabalho que precisa ser desenvolvido (Ef 4.12) é da responsabilidade única e exclusiva do pastor, ou do obreiro(a) pago. O famoso equivoco “clero x leigo”. Assim, muitos membros da igreja por crer desta forma, não se envolvem em nada mais que assistir, e a palavra é esta mesmo, assistir, ao culto e as reuniões.
Agora, gostaria de restringir minha análise a resistência dos dois primeiros grupos do terceiro ítem, ou seja, daqueles crentes que querem apesar de não saberem como se dará na prática e aqueles que estão analisando para ver aonde o processo e proponente quer chegar. A resistência se dará visto que: 1) Vivemos numa sociedade que vive as conseqüências da queda (Gn 3). Desta forma, temos as machucaduras e sentimentos de rejeição tanto de Deus como do próximo. Mesmo que ansiemos por relacionamentos, tendemos a fugir deles. E o discipulado visa exatamente a restauração do estado original o que não é nada fácil e nem projeto humano, apesar deste ter a sua parte; 2) Vivemos numa sociedade que aguçou os resultados da queda. Como? Com as inúmeras separações de casais. Ex-cônjuges agora vivendo sozinhos e por vezes com os filhos destroçados. Com a competitividade acirrada onde se vale pelo que produz e não pelo que é. Assim, se você não tem capacidade de produzir, é descartado. Com a coisificação do ser humano pela mídia e até mesmo com o crescente número de “pastores, bispos e após-tolos” que tem usado o ser humano como trampolim para suas megalomaluquices. Tudo isso, acirra as conseqüências da queda, faz com que na prática pessoas fujam de relacionamentos mais próximos que deveriam ser marcados pela gana de sermos transformados a imagem do Filho de Deus - o carro chefe do discipulado. 3) Além da falta de treinamento, algo que temos muito a aprender.
Eis alguns pensamentos que julgo serem importantes para entendermos as dificuldades de implantarmos um sistema eclesiológico que valorize o discipulado, ou seja, dificuldade na nossa crença, tanto dos lideres como dos liderados (eclesiologia). A dificuldade da nossa liderança, aqueles que deveriam ser os iniciadores na mudança pessoal de valores e consequentemente do processo. E por fim, a dificuldade encontrada pelo nosso povo, a igreja, que enfrenta todas as conseqüências do mundo pós-moderno em que vivemos.
Conclusão. A intenção ao refletir sobre discipulado desta perspectiva é mostrar que o mesmo tem um custo e o mesmo não é baixo. Assim, se quisermos vivenciar e levar a igreja a vivenciar um estilo de vida semelhante a vida de Jesus, precisamos urgentemente calcular o preço (Lc 14.28-35). Contudo, ainda assim, não temos escolhas se Jesus é de fato salvador e acima de tudo Senhor de nossas vidas.

Em outro artigo pretendo mostrar as bençãos da vivência do discipulado.

Saturday, July 14, 2007

Arrume o telhado

SÉRIE DISCIPULADO
Heliel Carvalho

Pensando e repensando sobre discipulado, peguei em minha biblioteca o Livro “o Discípulo” de Juan Carlos Ortiz. Fiquei assustado com a atualidade e visão abrangente do livro apesar de toda simplicidade e ser publicado pela primeira vez, em inglês, há mais de 36 anos.
E ao comentar no capítulo 13 sobre o título "membros ou discípulos", Ortiz faz uma observação perspicaz. Ele escreve: “O que significa ser membro da igreja hoje em dia? Quase todas as igrejas fazem três exigências: 1) O membro deve freqüentar as reuniões; 2) O membro deve contribuir; 3) O membro deve ter um bom caráter. Se estes três requisitos são satisfeitos, ele é considerado um bom membro da igreja. Então ele é como um sócio de um clube qualquer – freqüenta a sede, paga as mensalidades e procura não envergonhar sua agremiação.”
Como esta informação é atual, apesar de desatualizada. Desatualizada não por culpa do autor, mas porque na pós-modernidade amadurecida o que manda é a pluralidade. Assim hodiernamente além desta opção de membresia da igreja descritas acima, temos as mais diversas variações que gostaria de ponderá-las utilizando para isso um paralelo com as operações matemáticas. Vejamos:
Subtração. Algumas igrejas subtraíram o terceiro item, ou seja, você precisa freqüentar e ofertar, principalmente este, mas com o caráter não é necessário se preocupar, afinal “nascemos para ser cabeça e não calda” e pra chegar lá “vale gol até de mão”. Vive-se a ditadura do estético no lugar do ético. Em entrevista a revista Ultimato (julho-agosto 2007, p. 36) o teólogo colombiano Batista e escritor, Harold Segura comenta que dentro das fileiras evangélicas já observam os primeiros sinais do “protestantismo popular”, de “analfabetismo bíblico” e de “separação entre fé e ética”. Que situação lamentável! E ainda aproveitando a deixa de Segura, percebemos também que se subtraiu o conhecimento bíblico, isso porque colocou-se inúmeros apetrechos aos cultos em detrimento da pregação. Agora se a pregação bíblica tivesse multiplicado, mesmo que não acrescesse o número de membros, o que é difícil acontecer, não estaríamos na situação que nos encontramos. Subtraíram também na contribuição, pois na década em que Ortiz escreve contribuir significava dizimar, hoje, significa dar o que pode. "Dízimo é coisa do Antigo Testamento", dizem eles, nós estamos vivendo na graça e cada um dá conforme quer e quando pode.
Multiplicação. Outras igrejas multiplicaram. Especialmente quanto ao 2º e 1º item. Assim, deve-se dar mais e mais: a casa, o carro e o que tiver, pois Deus lhe dará o dobro. A troca é garantida e rentosa. A questão em jogo não é o reino, mas é a igreja, ou melhor o “pastor”. Multiplicaram também na freqüência. “Se você quiser receber a benção, deve participar das reuniões todos os dias”, especialmente se for campanha, “pois se falhar um dia sequer, perderá a benção” e terá de começar tudo de novo. Já ouvi de pessoas perdendo a família, com os filhos todos treslocados, pois os pais saíam correndo do serviço e tinha que ir para a igreja todos os dias da semana, chegando em casa tarde da noite. Sem nenhum tempo para os filhos e cônjuge. Multiplicaram-se e muito os programas, são infindáveis. Até os líderes das igrejas da idade média se ouvissem tais coisas se assustariam.
Adição. Ainda outras igrejas somaram. Além dos 3 itens colocaram ajuda a missões, o que é extremamente positivo. Começaram a pensar na informalidade do lar, com os grupos nas casas, denominando-os: grupos familiares, grupos de comunhão, células, enfim. Implantaram ministérios para que os crentes tivessem um meio de desenvolver seus dons. Colocaram também estranhas adições como inúmeros apetrechos nos cultos, chegando ao ponto de realizarem culto para “trocar um anjo mais fraco por um mais forte”, "reunião da revolta", "Do descarrego". Entre outros, que você conhece muito bem.
Divisão. Outras igrejas, ainda, dividiram. Fragmentaram-se em inúmeras comunidades. Insatisfeitos com a liderança (a mesma que normalmente invejavam), com a monotonia, com a teologia, com os 3 itens acima, porém o mais triste é que com raras exceções eles melhoraram alguma coisa. Via de regra, se degradaram transformando-se em homens prepotentes, mesquinhos, hierárquicos, cheios de mística anti-bíblica e idolatrados por uma massa acéfala.
De qualquer forma, mesmo que quaisquer destes grupos aproximem-se mais ou menos da verdade, ou até mesmo, desviem-se totalmente dela, poucos conseguiram chegar à essência. E para expressar melhor o que pretendo dizer, passo a descrever uma ilustração que me fez pensar seriamente sobre a vida e o propósito da igreja, para que também o membro identifique o seu papel nesta.
Certo Senhor ao sair de viagem, pediu a seus servos que trocassem o telhado da casa, pois o mesmo estava em péssimas condições. Dada a ordem viajou e os seus servos puseram-se a trabalhar. Passado o devido tempo retorna da viagem aquele senhor. Ao chegar na rua onde sua casa está localizada percebe o passeio totalmente novo e com um designer moderno. O muro muito bem pintado. Aciona o controle remoto, entra pelo portão da garagem e vê que o jardim está podado e com algumas plantas novas. A casa recebera uma pintura totalmente nova. Ao entrar pela sala a mesma estava lindíssima e organizada. Na copa havia um delicioso jantar a mesa. Esse senhor então maravilhado olha acima e percebe através dos buracos no forro que o telhado continuava velho e perigoso como quando saíra de casa.
Então indaga aos servos. O que houve? Por que não arrumaram o telhado? Estes disseram-lhe que começaram a arrumar o passeio, muro, jardim, pintura das paredes e por isso não sobrara tempo para fazer o que o senhor havia pedido. Os servos estavam muito ocupados e preocupados em fazer o periférico, não o essencial. Assim, não reformaram o telhado. Imagine como deve ter ficado aquele Senhor?
A conclusão é: por muito tempo e repetidas vezes essa história tem se repetido com a igreja. As últimas palavras de Jesus antes de retornar ao Pai, registradas por Mateus (28.18-20), se resume em “ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações... ensinando os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado...”. Como igrejas nós freqüentamos as reuniões, ofertamos, alguns remodelam o caráter, fazemos inúmeros programas, temos inúmeras festas e comemorações, reuniões sem fim, mas dificilmente e com raríssimas exceções fazemos discípulos. Semelhantemente aqueles servos, somos ótimos para arrumar passeios, muros, jardins, fazer pinturas, jantares entre outras, mas arrumar o telhado!... Ah, vale lembrar que arrumar o telhado dá trabalho. É complicado... é perigoso... podemos ter decepções... afinal, pensamos, nosso Senhor é bonzinho, não será tão rígido conosco quando formos prestar contas de nossa vida. Até parece que o Senhor Jesus deixou Mt 28.21 que diz: "é brincadeirinha tudo o que disse".
A minha oração é: Deus tenha misericórdia de nós, especialmente dos lideres, para que primeiro sejamos os exemplos em fazer discípulos, pessoas que vivam e ensinam a Palavra na vida cotidiana. Segundo, que fazendo discípulos de Jesus, não nosso, possamos ao mesmo tempo treinar tais pessoas para discipular outros, multiplicando-nos na vida de outros. Possamos seguir a recomendação de Paulo a Timóteo (2 Tm 2.2). “E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros”. Discipular, uma das funções mais primordiais e urgentes para um membro da Igreja de Jesus se engajar. Arrume o telhado.

Monday, July 09, 2007

série reflexão
Heliel Carvalho


Já sabe que o Senhor é bondoso?


Espera ai... não responde rápido não. Sei que você já falou, já declarou, já cantou, já leu, já ouviu inúmeras vezes: “o Senhor é bom e sua misericórdia dura para sempre”. É fato, eu também já ouvi, li, preguei, etc. Contudo, essa semana lendo a primeira carta de Pedro, mas especificamente o capítulo 2, versículo 3, que diz: “se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso”, fiquei estarrecido. Esse versículo explodiu como uma bomba em meu peito.

Mais você me pergunta: por que?
Veja, nos versículos anteriores Pedro nos diz para deixarmos tudo o que desagrada a Deus e que devemos desejar ardentemente o crescimento no relacionamento e obediência ao Senhor. Então ele diz que só faremos o despojamento do velho homem e desejaremos ardentemente o crescimento em Deus se de fato entendemos que Deus é bom.

Conclusão bombástica. Quando não sabemos na prática que Deus é bom, não desejamos o crescimento espiritual, leitura da palavra, oração, comunhão com os irmãos, etc.
Meu Deus!!! Fiquei com vergonha. Consigo ler bastante sobre Deus, sei falar para os outros o que fazer para busca-lo, consigo incentivar pessoas a oração, mas que dificuldade para orar, que dificuldade para parar e refletir em Deus e na vida. E mais, quando consigo tirar um tempo para orar, minha mente viaja. Preciso a todo minuto chamá-la de volta. É preciso amarar meu pensamentos a minha intenção naqueles momentos visto que de outra forma ele foge. Então entendi e me surpreendi com o pensamento de Calvino: “A oração tem primazia na adoração e no serviço a Deus”, e Hermisten continua: daí o seu conselho: “a não ser que estabeleçamos horas definidas para a oração, facilmente negligenciaremos a prática”.

E a conclusão dolorosa e abençoadora é: Na verdade, na verdade, para mim ainda não tenho a convicção, em toda a sua plenitude, que o Senhor é bom. Que tristeza, que dor no peito, que vontade de chorar. Falo tanto dEle, mas ainda não O conheço como deveria. Oséias estava certo: “conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor”.
Ao mesmo tempo essa conclusão é abençoadora, visto que essa humilhação me lança para o mais perfeito sentimento e posicionamento que um ser humano pode ter. Sou enviado a confiar nos méritos de Jesus Cristo. Justamente porque se dependesse de mim, me desculpe a expressão, mais eu estaria “no lasco”. Se dependesse de minha fome de Deus, já estaria morto de inanição espiritual. Nesse caso sou lançado para graça de Deus que é melhor do que a vida. E nesse ambiente da graça, tenho vontade de louva-lo, de crescer em Cristo, de conhece-lo mais e mais, pois Ele fez tudo o que tinha de ser feito por mim. Aleluias. Busquemos ao Senhor e deixemos que Ele nos mostre sua bondade para cada dia sermos atraídos a Ele. Glórias sejam dada ao Nome Santo e poderoso de Jesus.

Heliel Carvalho



Bem-aventurado é aquele que teme ao Senhor. É como a arvore plantada junto a ribeiros que no devido tempo dá o seu fruto.
Lindo não?